SONHO E SUPERAÇÃO

Uma vida de dificuldades, trabalho, esperança e realização

Barracas do Exército Brasileiro onde as famílias de Encruzilhada Natalino ficaram acampadas até serem assentadas em suas terras.

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Eram 10 horas de segunda-feira, 23 de novembro de 1981, uma manhã ensolarada sob a qual reluziam as barracas de lona verde, montadas pelo Exército Brasileiro. Lourdes Tomazini Martinelli lembra como se fosse hoje da sua chegada com a família em Lucas do Rio Verde.

Foram cinco dias de viagem de ônibus de Ronda Alta (RS) até Lucas do Rio Verde, depois de seis meses no acampamento da Encruzilhada Natalino, para se deparar agora diante de um novo acampamento. E lá se foram mais 60 dias até chegar a madeira para construírem a casa no sítio – um dos lotes de 200 hectares que formavam o Projeto Especial de Assentamento Lucas do Rio Verde, implantado pelo governo federal por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

Foi um tempo de muito sofrimento. A gente tinha que lavar roupa no rio, beber água do rio. As crianças passavam muito mal. Eu achava que ia perder metade dos meus filhos”, relata dona Lourdes, de 81 anos, mãe de 10 filhos. Dos 10, apenas um nasceu aqui. O mais novo dos nove que vieram acabara de completar um ano no dia da mudança.

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Dona Lourdes conta que a mudança para o sítio trouxe novos desafios. “As dificuldades também foram muitas: a terra era pobre, a gente plantava, mas quase não produzia, porque precisava tratar. No primeiro ano a gente não colheu quase nada ali. Daí, veio semente de feijão pra gente plantar, deu um feijãozinho assim pra quebrar o galho, né, mas era muito pouco”.

Conforme relata dona Lourdes, na safra seguinte conseguiram plantar 50 hectares de arroz. “Daí já deu uma melhorada. Pelo menos arroz tinha, mas não foi fácil!” O que garantiu o sustento da família, segundo dona Lourdes, foi a persistência e força de vontade dos filhos, que sempre trabalharam fora e mandavam dinheiro para sustentar a casa. “A gente se virava, trabalhava até que cansava, porque a gente tinha que trabalhar em casa e ainda trabalhei de empregada uma época”.

Tanto esforço e superação valeram a pena, atesta dona Lourdes, que se diz realizada porque todos os filhos conseguiram se encaminhar na vida. Dos 10, sete conseguiram cursar faculdade. Ela bem que gostaria de ter proporcionado melhores oportunidades para os filhos, mas se dá por satisfeita porque percebe que a cidade oferece estas oportunidades para quem se esforça e quer crescer.

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“Os meninos e as meninas também sempre falam que se nós tivesse ficado no Rio Grande, de repente nem iam ter condição pra estudar. Onde a gente morava não dava pra eles estudar, daí eles pararam na quarta série, os quatro mais velhos, porque era longe e a gente era pobre, né. E aqui, graças a Deus, eles estudaram”.

Seu recado aos jovens e aos novos moradores que chegam em busca dos seus sonhos é certeiro: “Ergam a cabeça e trabalhem, porque aqui tem futuro, pois eu que cheguei sem nada, venci. Não fiquei rica, mas criei meus filhos e me sinto feliz. Agora quem vem é tranquilo, porque agora tem quase tudo que precisa, né. Não é que nem a nossa época, que não tinha nada.”

 

Dona Lourdes Tomazini Martinelli em 2008, quando concedeu esta entrevista ao Folha Verde.

Dona Lourdes hoje, aos 81 anos de idade: sorriso de quem enfrentou e venceu as adversidades

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