Jornal Folha Verde: um pouco de história
Era 31 de maio de 1986 e os moradores da pequena vila chamada Lucas do Rio Verde já detectavam os sinais do início de mais uma estação seca. Na véspera, a TV Globo exibira o último capítulo de “Anos Dourados”, mas na “vila” a maioria esmagadora da população não acompanhou a minissérie, assim como também não se divertiu com os personagens tranbiqueiros de Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri em “Cambalacho” e também não conseguiu vivenciar o drama dos personagens de Toni Ramos e Fernanda Torres em “Selva de Pedra”, pois não havia energia elétrica nem acesso à televisão. Todos, porém, deram um jeito de acompanhar a Copa do Mundo, aberta por Bulgária e Itália no Estádio Azteca, Cidade do México, naquele dia 31 de maio de 1986.
Governado por José Sarney, o Brasil amargava os desdobramentos do Plano Cruzado e seu tabelamento de preços dos produtos nos supermercados. Se em tempos “normais” já era difícil chegarem produtos na vila, imaginem em tempos de congelamento de preços!
E foi também em 31 de maio de 1986, tendo como pano de fundo o cenário que acabamos de desenhar, que circulou a primeira edição do Jornal Folha Verde, que ainda não tinha este nome. Aliás, nem nome tinha ainda!
A Escola Estadual de 1º e 2º Graus Dom Bosco, à época a única unidade escolar do núcleo urbano de Lucas do Rio Verde, não era apenas um estabelecimento de ensino, mas também um centro irradiador de cultura e de ideias acerca das necessidades e do desenvolvimento da comunidade em formação.
Em uma certa manhã, nos primeiros meses do ano letivo daquele 1986, os alunos da 7ª série da Dom Bosco se entusiasmaram com a ideia de fazer um jornal. A proposta foi apresentada pela jornalista Vera Terezinha Faccin Carpenedo, que atuava como professora de Língua Portuguesa nas turmas de 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e também lecionava Língua Portuguesa e Literatura para turmas do 2º Grau.
Inicialmente, o “jornalzinho” seria apenas uma atividade da turma na disciplina de Língua Portuguesa, mas a ideia ganhou respaldo da direção e coordenação da escola e tomou corpo, ultrapassando não somente os limites da sala de aula como também a cerca da própria escola.
Organizadas as equipes e distribuídas as pautas e tarefas, os estudantes da 7ª série assumiram atribuições de repórteres, desenhistas, ilustradores, diagramadores e até de chargistas e astrólogos. Toda supervisão do trabalho ficou sob a responsabilidade da jornalista e professora Vera, que também cuidou da edição e revisão.
Jornal pronto para ser impresso – ou melhor, xerocado – e faltava-lhe ainda o nome. Várias sugestões e nenhum consenso. Foi então que a turma decidiu: a primeira edição circularia sem nome, propondo que toda a comunidade participasse da escolha. Na capa da primeira edição, no espaço destinado ao nome, uma pergunta foi estampada: “Que nome você daria a este jornal?”
Urnas foram colocadas em pontos estratégicos da cidade, como Correio, Posto Telefônico, agência bancária, e na própria escola. Assim, estudantes, professores e os moradores puderam votar, e o nome com o maior número de votos foi Folha Verde, que se tornou marca de credibilidade e compromisso com o desenvolvimento de Lucas do Rio Verde
Nos primeiros tempos, o jornal tinha o formato A4, era datilografado e reproduzido em xerox. No período de 1986/1987 foi mantido sob a responsabilidade da Escola Dom Bosco, porém, por razões diversas, teve sua edição interrompida no final de 1987 e durante alguns meses a comunidade de Lucas do Rio Verde se viu privada do “seu” jornal. Assim, em 1988, a jornalista Vera Terezinha Faccin Carpenedo, com apoio do marido, Valmor Carpenedo, decide constituir empresa e levar adiante o projeto do jornal, fazendo dele o veículo de integração da comunidade.
Ao longo de sua trajetória, o jornal Folha Verde sempre foi e continua sendo um formador de opinião, um difusor da cultura luverdense, fomentador do espírito de pertencimento, partícipe do desenvolvimento socioeconômico e, principalmente, um repositório da história de Lucas do Rio Verde. Desde a instalação do Distrito, a implantação das primeiras redes de água e de energia elétrica, a caminhada e conquista da emancipação político-administrativa e todos os fatos importantes que a sucederam até os dias atuais, tudo foi registrado pelo Folha Verde e está documentado em suas páginas – muitas já amareladas pelo tempo.
O vínculo do jornal com o desenvolvimento de Lucas do Rio Verde, com os luverdenses, seus sonhos, lutas, anseios, desafios e conquistas, fortaleceu-se ao longo dos anos. A história do Folha Verde, sempre pautada na ética e responsabilidade no bem informar, possibilita olhar para frente, visualizar novos horizontes e apostar em projetos inovadores.